terça-feira, 10 de julho de 2012

Olá pessoal, hoje vamos ver algumas das poesias do grande Ray Lima, pessoa na qual tive a oportunidade e o prazer de conhecer pessoalmente; ouvir e sentir seus versos na sua própria voz; além de ser presenteada por ele com dois de seus maravilhosos livros, Tudo é Poesia I e II.



Ray Lima (foto) é Cenopoeta, ator, encenador e educador. Fundador do Movimento Escambo Popular Livre de Rua. Licenciado em Língua e Literaturas de Língua Portuguesa pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro - UERJ, também estudou teatro na Escola Martins Penna – RJ. Atualmente faz suas travessuras e travessias com os espetáculos: Lâminas, Pintou Melodia na Poesia, Poemia do Mundo, Vivências, Desafios de Repente e Intervenções Cenopoéticas pelo Nordeste e pelo Brasil. Além disso, atua como assessor artístico-pedagógico das Cirandas da Vida e é colaborador da Universidade Popular de Arte, Ciência e Saúde - UPAC-RJ e membro das Cirandas Ampliadas de Aprendizagens, Arte, Pesquisa e Educação Popular(em gestação).



A ALGUMAS QUADRAS DE MIM

Ao passar por entre tudo vi
que o tudo não existe.
Procurei dele fugir, não pude.
Fiquei alegre e triste

Adoçando a ilusão dos outros
vou entretendo a ilusão que é minha
E nessa trilha de ilusão há ilusão.
A vida abarca uma extensão infinda.

E se tem fim esse caminho torto
não me confiei conhecer ainda;
ou minhas passadas tão curtas se fizeram
que não me foi possível atingir o porto.

Mas se tal porto é ponto de partida
e de chegada, como queira o quero,
então não chego a sair do quarto,
apenas sinto a rotação do cérebro.

(Ray Lima- Tudo é Poesia)




JÁ NASCI SABENDO


Já nasci sabendo
que não ia poder saber,
não iam querer o meu querer
por nascer mal e não ceder.

Já nasci sabendo
que o poder detém o ensinamento,
o parlamento da cultura;
saber não me pertence,
falta-me o sangue azul.

Já nasci sabendo
que do lado de cá
abaixo da média da economia
tenho de correr atrás das rédeas de aço
de uma certa etnia puro sangue
a pé
para, se até lá não morrer de cansaço,
conquistar o que fica na fumaça.

Já nasci sabendo:
o saber que me satisfaria
jamais seria esse saber horrendo
empurrado
pré-meditado pela burguesia.

Mal abri os olhos me ensinaram com mau gosto,
tanto que vivo a esconder o rosto;
me dá desgosto essa vida de aprendiz;
veja expresso neste rosto inculto,
faminto, infeliz.

Já nasci sabendo:
que ao nascer repudiariam meu saber;
tentariam me matar no alvorecer;
que ia me arrastar mesmo sofrendo;
queiram ou não queiram, estou querendo.


(Ray Lima – in Nhandupoiema – Queima Bucha, Mossoró-RN, 1994)





“Os espaços têm cheios,
vãos e fuis, pontas e meios,
veias e veios,
vazios não. Vazios não.
Os espaços da vida. Os espaços têm vida,
não são em vão.
Vazios não. Vazios não.”

(Ray Lima- in Tudo é Poesia I. Mossoró-RN, 2005.)


A SUSTENBILIDADE DO SER

O SER torna-se sustentável
quando revela humanidade nas atitudes,
quando constrói harmonia nas relações;
quando gera sintonia nas conversas,
nos olhares, nos projetos, nas ações.

O SER torna-se sustentável
quando a complexidade de suas idéias
e do seu pensamento torna simples
a vida das pessoas.

O SER torna-se sustentável
quando dá vida a tudo que é criação,
quando a morte não é opção -
onde o vivo torna-se mais vivo
e, à medida que vive, mais irmão.

O SER torna-se sustentável
quando se multiplica ao mesmo tempo
em que se preserva ; se valoriza a pessoa
que é, como é; se embeleza o ato de viver.

O SER torna-se sustentável
quando se mistura a biodiversidade dos universos ao artístico, ao científico, ao erudito, ao popular;
quando ganha a vida um ritmo, uma alegria, uma leveza,
um charme infinito que não encerra.


(Ray Lima)



“se tudo, como dizem,
já foi feito e dito,
o que nos resta
senão ralar no infinito.”

(Ray Lima. Do próprio Verbo. In Tudo é Poesia Vol. I – 2ª ed. Mossoró-RN: 2005.)

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